A CONSTRUÇÃO DA LEITURA
(1ª PARTE)
ALFABETIZAÇÃO NA
VISÃO PSICOGENÉTICA
O
processo de alfabetização (leitura), do ponto de vista da psicologia cognitiva,
pode ser entendido através da análise das relações entre os SIGNIFICANTES (palavras, desenhos,
fotos etc.) e os SIGNIFICADOS
(objetos). Essas relações não apenas vão explicar o progressivo distanciamento
do objeto feito pela inteligência; mas, também, servirão para a compreensão dos
processos de mudança de códigos.
Sendo
distinguidas as seguintes etapas nas relações entre significantes e
significados:
Ø
ÍNDICES (primeiros significantes com
que a inteligência trabalha e ainda estritamente ligados ao objeto).
Ø
SÍMBOLOS (significantes capazes de
proporcionarem maior mobilidade para inteligência já que lhes permitem agir
mais à distância, trabalhando mais com as representações e não com os objetos.)
Ø
SIGNOS (significantes inteiramente
independentes. Desvencilhados dos limites impostos. Esses significantes
arbitrários e convencionais, independentes do objeto, são chamados de PALAVRAS
(verbal e gráfica).
O
primeiro momento de distinção entre os significantes
e os significados é muito importante para o processo de alfabetização; vez que, representam a etapa das
EXPERIÊNCIAS mais diretas da criança. Podendo ser considerada esta a PRIMEIRA ETAPA DA ALFABETIZAÇÃO COGNITIVA
da aprendizagem de leitura.
Ora,
a criança, ao identificar um objeto através de sua ação sensório motora sobre
ele, nada mais está fazendo senão LENDO - OS. É o que chamamos leitura da
realidade ou LEITURA DA EXPERIÊNCIA. Através dos índices, parte do objeto, a
inteligência inicia o progressivo distanciamento do objeto que culminará na
leitura e compreensão dos signos (palavras).
A
partir daí a criança transforma a
realidade, através dos símbolos, para satisfazer necessidades estritamente
individuais, não tendo nenhum compromisso com a realidade e a objetividade dos
fatos.
A
introdução dos signos é a última etapa de distanciamento entre o objeto
(significado) e seus significantes (índices, sinais, símbolos e signos). Neste estágio (leitura dos signos), a criança
será capaz de organizar conjuntos, desmanchá-los, reorganizá-los de maneira
diferente etc. Ela poderá, portanto, desmanchar as palavras, reorganizar suas
partes em novas totalidades (desfazer uma palavra e, partir de suas sílabas, criarem
novas palavras).
Observa-se, pois, a partir desta perspectiva, a
importância da matemática para a aprendizagem da leitura e da escrita
(alfabetização).
O
que é chamado aqui de matemática compreende, precisamente, o conhecimento físico (que consiste em
uma abstração feita a partir das qualidades físicas do objeto) e o conhecimento
lógico matemático (que consiste em
uma abstração feita a partir da ação: ordenação, classe etc.). Considerando que
ler implica na desorganização de uma estrutura (palavra-chave,
palavra-geradora) e sua reorganização em estruturas novas (palavras novas); na
organização de uma totalidade (frases), a partir da posse de um conjunto de
estruturas dispersas (palavras); na compreensão de dois pontos de vista de
forma simultânea (tábua de dupla entrada), ou de uma permutação com as vogais,
estas implicações são todas matemáticas e, portanto, independente dos métodos de alfabetização que se vai utilizar.
Por
último, vale colocar que, as explorações de TEXTOS, FRASES e TEMAS,
anteriormente a introdução da PALAVRA GERADORA, serão sempre extremamente úteis, uma vez que, quanto
mais a palavra geradora é retirada de um contexto significativo para as
crianças, mais será rica sua exploração
na ficha-esquema onde devem ser cobertos todos os fonemas (critérios linguísticos).
A
proposta, pois, está baseada no desenvolvimento das estruturas mentais e pode
ser sintetizada da seguinte forma:
·
Totalidade (tema/frase/palavra);
·
Análise/síntese (sílaba – palavras novas –
frases-texto);
·
Generalização (compreensão do código escrito);
·
Aplicação do ESQUEMA (leitura e escrita)
Antes de qualquer coisa, é interessante
esclarecer alguns pontos como:
A nossa escolha se deu pelos seguintes
motivos:
·
Por
utilizar a mesma estrutura lógica da nossa LÍNGUA (UNIDADE SILÁBICA, VOGAL COMO
VARIANTE ETC.);
·
Por ser um modelo facilmente
popularizado, através das experiências de Lauro de Oliveira Lima (com crianças
e adolescentes) e Paulo Freire (com adultos);
·
Por
ser em parte, amplamente conhecida pelos educadores;
·
Pelos
bons resultados alcançados nas experiências realizadas pelas escolas que optaram pelo construtivismo seqüencial (
psicogenético) e nas pesquisas.
A nossa proposta está baseada no
desenvolvimento das estruturas mentais. Pode ser sintetizada da seguinte
maneira:
·
Totalidade
(temas / frases / palavras).
·
Análise
/síntese (sílabas – palavras novas – frases – textos).
·
Generalização
(compreensão do código escrito).
·
Aplicação
do ESQUEMA (leitura e escrita).
1.
A QUESTÃO DA LETRA
A letra que utilizamos é a conhecida
como de BASTÂO, se alguma escola,
porém tiver grande objeção à mesma, sugerimos a de imprensa MINÚSCULA, esta usada nos livros, jornais etc. Isto porque a letra cursiva, dita de mão, possui uma estrutura de nó, de
cruzamento, que implica um nível de coordenação tal que termina por concentrar
a criança na sua execução, ao invés de na leitura propriamente dita.
Por outro lado, aprender
a ler é independente de aprender a
escrever, assim como ler é independente de falar. Podemos ler sem saber escrever, assim como a criança pode falar
muito antes de poder ler. Portanto, uma criança pode ler e organizar ideias
independente de saber representá-las graficamente (escrita). Ela estará apta
para ler quando suas estruturas mentais atingirem certo nível de desenvolvimento,
ou seja, quando ela alcançou as estruturas lógicas do pensamento operatório (operações
concretas). Isto não significa, contudo, que deva possuir um nível de
coordenação motora que lhe permita fazer desenhos tão complicados como os da
escrita cursiva.
Particularmente para as crianças, o mundo aparece escrito
principalmente com a letra de imprensa. Ensinando-a com este tipo estaremos
colocando-a com este tipo de letra estaremos colocando-a diretamente em contato
com o mundo escrito nos cartazes, nos jornais, revistas, livros, televisão
etc.; e este é o principal objetivo quando alfabetizamos uma criança. Além do mais, a letra cursiva é extremamente
individual, tem diversos estilos, terminando por dificultar a sua leitura e
confundir a criança.
Com o tempo, após a
alfabetização (aprendizagem da leitura a criança aprende rapidamente e
generaliza todo tipo de letra). Na maioria das vezes ela aprende sozinha a
letra cursiva (pela simples curiosidade espontânea). Não devemos ter pressa,
cada etapa acontece em seu devido tempo, na hora certa, quando é uma
NECESSIDADE.
Neste momento nossa preocupação é que
a criança adquira um novo código de comunicação. Na descoberta de um novo mundo:
o escrito. Para esse objetivo, as melhores letras são as de BASTÃO e a de IMPRENSA,
por serem as mais simples (praticamente compostas de movimentos independentes)
e por não atrapalharem o processo tão importante de desenvolver a inteligência e
construir um NOVO ESQUEMA DE
ASSIMILAÇÃO.
Centraremos todas as nossas atenções nesta transformação.
O que eu falo, pode ser escrito e pode ser lido. Não devemos PERMITIR que a
criança gaste um precioso tempo em especializar-se numa atividade. Lembremos
que ela poderá criar “histórias”,
inventar e conversar sem que precise escrever.
2. UTILIZAÇÃO DAS FICHAS DE LEITURA
Vamos construir quatro níveis de fichas de
leitura, cada uma em papel-cartão, preferencialmente coloridas, cobrindo um
vocabulário mínimo de 300 palavras.
1ª FICHA – SÍMBOLO - apenas com o desenho dos objetos, ou foto
recortada de revistas, propagandas, livros velhos etc.
2ª FICHA – SÍMBOLO – SIGNO - as mesmas com o desenho ou recorte
acompanhado da palavra
3ª FICHA – ÍNDICE PARA
IDENTIFICAR O SIGNO -
(do mesmo vocabulário) com o contorno ou parte do desenho, acompanhado pela
palavra.
4ª FICHA - SIGNO - apenas com a palavra (escolham entre as palavras
sugeridas). (Se a criança, não reconhecer o som, coloque várias fichas para que
ela identifique, de que objeto é aquele nome). É o momento de explorar os
signos através dos símbolos (esquema de
assimilação, reconhecimento dos SIGNOS (palavras).
Peça para baterem palmas, para descobrirem
quantos pedacinhos (sons) tem as palavras. O som que começa. O som que termina.
Identificar outras palavras começadas com o mesmo som.
Trabalhar com as fichas de leitura 1, 2, 3,
4. Comece o estudo das fichas 2, em ligação com os objetos ou a ficha 01.
Depois a ficha 3 em ligação com a 02 ou
a 01 e finalmente a ficha 4 em relação com a 2 e a 3, misturando nas
brincadeiras e jogos para a identificação uma com as outras e explorando bastante o valor sonoro das
famílias que formam as palavras buscando outras com o mesmo som, explorando e
estimulando tanto a percepção auditiva quanto a visual.
Explore
as palavras da terceira ficha, verbalmente, como se separam batendo palmas.
Explorar, também oralmente, os nomes das crianças, etc.
Com
as palavras da 3ª ficha, peça que cada criança diga uma palavra que comece com
um de seus pedacinhos. Por exemplo: na palavra BOLA as crianças devem dizer
palavras que começam com BO, depois com LA. Faça isto com o máximo de palavras
da 3ª ficha. Procure realizar através de jogos, dividindo a turma em grupos,
pois isto estimula uma atividade característica da criança e também contribui
para atenuar a competição.
Crie
vários jogos que auxiliem no trabalho com as fichas.
PARALELO ao estudo das fichas certifique-se
que todas ou a maioria das crianças conhecem as vogais.
OBS. EM NOSSA LÍNGUA SÃO AS VOGAIS QUE DETERMINAM O SOM DAS LETRAS.
NA VERDADE, ELAS É QUE VARIAM E FORMAM AS PALAVRAS. NOSSA PROPOSTA É QUE
NESSE INÍCIO AS CRIANÇAS COMECEM TRABALHANDO APENAS COM AS VOGAIS. QUANTO MENOS CONHECIMENTO TIVEREM DAS
CONSOANTES, MAIS CONDIÇÕES TERÃO PARA ASSIMILAR O CONJUNTO DAS FAMÍLIAS, OU
SEJA AO INVÉS DE B + A = BA, A CRIANÇA CONHECE “BA” COMO UMA TOTALIDADE
IDENTIFICADA PELA VOGAL.
Se a
maioria das crianças não identificarem, trabalhe as vogais conforme orientação.
·
Invente e conte historinhas onde os personagens são as vogais.
O interessante é que seja contada a história de cada vogal separadamente. A
história do A, do U, do O etc., para depois reuni-las uma só história.
·
Procure em revistas a vogal A (depois O,I,E,U), recortar e cola
·
Leve-os
a montarem as vogais com massinha de modelar.
·
Desenhe
as vogais no chão para caminharem sobre as mesmas.
·
Dê
para as crianças o desenho da vogal em folha ofício para que elas colem
barbante, palitos, grãos etc.
Faça
uma brincadeira onde cada criança, terá um mini
cartaz (folha de ofício) preso na roupa. Estabeleça uma dinâmica onde
todos, ao som de uma música, ou um instrumento, andem livremente e a um
determinado sinal, devem parar e dar a mão ao amigo do lado. Faça análise dos encontros formados e seus
respectivos sons (EU – IA – AI – AU – OI – OU – EI – UAI –UI ) os sons formados
que não tenham sentido como por exemplo AE
– UA etc. são desfeitas para retomar a dinâmica e serem refeitas.
Ao
fim da brincadeira escreva os encontros
em fichas que darão inicio ao seu banco
de palavras
OBS.: A FICHA ESQUEMA SÓ DEVE SER INTRODUZIDA QUANDO IDENTIFICAREM SEM
DIFICULDADE AS VOGAIS E AS TÁBUAS DE UMA E DUPLA ENTRADA JÁ TER SIDO
TRABALHADO BASTANTE.







Quando perceber que já estão bem seguros no reconhecimento das
vogais e dos encontros vocálicos dê inicio ao trabalho com a ficha esquema, seguindo
passo a passo as orientações dadas.
Sugestões
de outras atividades a serem trabalhadas neste momento:







Ex: - “Há nuvens escuras; o que vai acontecer?”
- “ A rua está molhada: o
que aconteceu?”

- cores dos sinais de trânsito.
- emblemas de clubes.
- cores de times de futebol.



- a respeito do acordo
prévio que determinou os acordos usados nas atividades.
- a respeito de suas
funções (no desempenho de chefias).

- cores dos sinais de
trânsito.
- emblemas de clubes.
- cores de times de
futebol.







- servem para comer
- servem para pentear o cabelo.
- servem para a higiene pessoal.
- eletrodomésticos.
- flores.
- animais etc.
Estas fichas devem ser
recortadas em retângulos para o uso da criança, a maneira de um baralho (um
pouco menor).
Sugestão de Leitura:
Núcleo Pedagógico
Rosângela Meira / Valdicéia Rosa Terence
·
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