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quarta-feira, 13 de março de 2013

MAGDA SOARES: UMA TRAJETÓRIA DE SUCESSO


Uma das mais importantes pesquisadoras da educação, alfabetização e ensino da língua portuguesa no Brasil, a professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais, Magda Soares, mereceu uma edição especial, em dezembro passado, do jornal Letra A, produzido pelo Ceale (Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Faculdade de Educação da UFMG). Ela completou 80 anos de vida. Além de vários depoimentos de alunos e colegas da professora – que já mereceu poema de Manuel Bandeira e crônica de Fernando Sabino – artigos traçam um perfil de sua trajetória profissional, dos projetos, publicações e ideias. Clique aqui para acessar o jornal

segunda-feira, 11 de março de 2013

PSICOLOGIA COGNITIVA



A CONSTRUÇÃO DA LEITURA

(1ª PARTE)
 
   ALFABETIZAÇÃO NA VISÃO PSICOGENÉTICA

         

   O processo de alfabetização (leitura), do ponto de vista da psicologia cognitiva, pode ser   entendido através da análise das relações entre os SIGNIFICANTES (palavras, desenhos, fotos etc.) e os SIGNIFICADOS (objetos). Essas relações não apenas vão explicar o progressivo distanciamento do objeto feito pela inteligência; mas, também, servirão para a compreensão dos processos de mudança de códigos.



Sendo distinguidas as seguintes etapas nas relações entre significantes e significados:


Ø  ÍNDICES (primeiros significantes com que a inteligência trabalha e ainda estritamente ligados ao objeto).


Ø  SÍMBOLOS (significantes capazes de proporcionarem maior mobilidade para inteligência já que lhes permitem agir mais à distância, trabalhando mais com as representações e não com os objetos.)

 

Ø  SIGNOS (significantes inteiramente independentes. Desvencilhados dos limites impostos. Esses significantes arbitrários e convencionais, independentes do objeto, são chamados de PALAVRAS (verbal e gráfica).

  

O primeiro momento de distinção entre os significantes e os significados é muito importante para o processo de alfabetização; vez que, representam a etapa das EXPERIÊNCIAS mais diretas da criança. Podendo ser considerada esta a PRIMEIRA ETAPA DA ALFABETIZAÇÃO COGNITIVA da aprendizagem de leitura.

 

Ora, a criança, ao identificar um objeto através de sua ação sensório motora sobre ele, nada mais está fazendo senão LENDO - OS. É o que chamamos leitura da realidade ou LEITURA DA EXPERIÊNCIA. Através dos índices, parte do objeto, a inteligência inicia o progressivo distanciamento do objeto que culminará na leitura e compreensão dos signos (palavras).


A partir daí a criança transforma a realidade, através dos símbolos, para satisfazer necessidades estritamente individuais, não tendo nenhum compromisso com a realidade e a objetividade dos fatos.


A introdução dos signos é a última etapa de distanciamento entre o objeto (significado) e seus significantes (índices, sinais, símbolos e signos).  Neste estágio (leitura dos signos), a criança será capaz de organizar conjuntos, desmanchá-los, reorganizá-los de maneira diferente etc. Ela poderá, portanto, desmanchar as palavras, reorganizar suas partes em novas totalidades (desfazer uma palavra e, partir de suas sílabas, criarem novas palavras).

 
Observa-se, pois, a partir desta perspectiva, a importância da matemática para a aprendizagem da leitura e da escrita (alfabetização).

 

O que é chamado aqui de matemática compreende, precisamente, o conhecimento físico (que consiste em uma abstração feita a partir das qualidades físicas do objeto) e o conhecimento lógico matemático (que consiste em uma abstração feita a partir da ação: ordenação, classe etc.). Considerando que ler implica na desorganização de uma estrutura (palavra-chave, palavra-geradora) e sua reorganização em estruturas novas (palavras novas); na organização de uma totalidade (frases), a partir da posse de um conjunto de estruturas dispersas (palavras); na compreensão de dois pontos de vista de forma simultânea (tábua de dupla entrada), ou de uma permutação com as vogais, estas implicações são todas matemáticas e, portanto, independente dos métodos de alfabetização que se vai utilizar.

 

Por último, vale colocar que, as explorações de TEXTOS, FRASES e TEMAS, anteriormente a introdução da PALAVRA GERADORA, serão sempre extremamente úteis, uma vez que, quanto mais a palavra geradora é retirada de um contexto significativo para as crianças, mais será rica sua exploração na ficha-esquema onde devem ser cobertos todos os fonemas (critérios linguísticos).

 

A proposta, pois, está baseada no desenvolvimento das estruturas mentais e pode ser sintetizada da seguinte forma:


·         Totalidade (tema/frase/palavra);

·         Análise/síntese (sílaba – palavras novas – frases-texto);

·         Generalização (compreensão do código escrito);

·         Aplicação do ESQUEMA (leitura e escrita)

 

        Antes de qualquer coisa, é interessante esclarecer alguns pontos como:

 A nossa escolha se deu pelos seguintes motivos:

·         Por utilizar a mesma estrutura lógica da nossa LÍNGUA (UNIDADE SILÁBICA, VOGAL COMO VARIANTE ETC.);


·         Por ser um modelo facilmente popularizado, através das experiências de Lauro de Oliveira Lima (com crianças e adolescentes) e Paulo Freire (com adultos);


·         Por ser em parte, amplamente conhecida pelos educadores;

·         Pelos bons resultados alcançados nas experiências realizadas pelas escolas que   optaram pelo construtivismo seqüencial ( psicogenético) e  nas pesquisas.


A nossa proposta está baseada no desenvolvimento das estruturas mentais. Pode ser sintetizada da seguinte maneira:

 
·       Totalidade (temas / frases / palavras).


·       Análise /síntese (sílabas – palavras novas – frases – textos).


·       Generalização (compreensão do código escrito).


·       Aplicação do ESQUEMA (leitura e escrita).

 
     1.  A QUESTÃO DA LETRA

 

         A letra que utilizamos é a conhecida como de BASTÂO, se alguma escola, porém tiver grande objeção à mesma, sugerimos a de imprensa MINÚSCULA, esta usada nos livros, jornais etc. Isto porque a letra cursiva, dita de mão, possui uma estrutura de nó, de cruzamento, que implica um nível de coordenação tal que termina por concentrar a criança na sua execução, ao invés de na leitura propriamente dita.

 
           Por outro lado, aprender a ler é independente de aprender a escrever, assim como ler é independente de falar. Podemos ler sem saber escrever, assim como a criança pode falar muito antes de poder ler. Portanto, uma criança pode ler e organizar ideias independente de saber representá-las graficamente (escrita). Ela estará apta para ler quando suas estruturas mentais atingirem certo nível de desenvolvimento, ou seja, quando ela alcançou as estruturas lógicas do pensamento operatório (operações concretas). Isto não significa, contudo, que deva possuir um nível de coordenação motora que lhe permita fazer desenhos tão complicados como os da escrita cursiva.

 

        Particularmente para as crianças, o mundo aparece escrito principalmente com a letra de imprensa. Ensinando-a com este tipo estaremos colocando-a com este tipo de letra estaremos colocando-a diretamente em contato com o mundo escrito nos cartazes, nos jornais, revistas, livros, televisão etc.; e este é o principal objetivo quando alfabetizamos uma criança. Além do mais, a letra cursiva é extremamente individual, tem diversos estilos, terminando por dificultar a sua leitura e confundir a criança.

 
           Com o tempo, após a alfabetização (aprendizagem da leitura a criança aprende rapidamente e generaliza todo tipo de letra). Na maioria das vezes ela aprende sozinha a letra cursiva (pela simples curiosidade espontânea). Não devemos ter pressa, cada etapa acontece em seu devido tempo, na hora certa, quando é uma NECESSIDADE.
 

         Neste momento nossa preocupação é que a criança adquira um novo código de comunicação. Na descoberta de um novo mundo: o escrito. Para esse objetivo, as melhores letras são as de BASTÃO e a de IMPRENSA, por serem as mais simples (praticamente compostas de movimentos independentes) e por não atrapalharem o processo tão importante de desenvolver a inteligência e construir um NOVO ESQUEMA DE ASSIMILAÇÃO. 

 
         Centraremos todas as nossas atenções nesta transformação. O que eu falo, pode ser escrito e pode ser lido. Não devemos PERMITIR que a criança gaste um precioso tempo em especializar-se numa atividade. Lembremos que ela poderá criar “histórias”, inventar e conversar sem que precise escrever.
 

    2. UTILIZAÇÃO DAS FICHAS DE LEITURA


       Vamos construir quatro níveis de fichas de leitura, cada uma em papel-cartão, preferencialmente coloridas, cobrindo um vocabulário mínimo de 300 palavras.

                 1ª FICHA – SÍMBOLO - apenas com o desenho dos objetos, ou foto recortada de revistas, propagandas, livros velhos etc.              

 
                 2ª FICHA – SÍMBOLO – SIGNO - as mesmas com o desenho ou recorte acompanhado da palavra

 
                 3ª FICHA – ÍNDICE PARA IDENTIFICAR O SIGNO - (do mesmo vocabulário) com o contorno ou parte do desenho, acompanhado pela palavra.

 
                 4ª FICHA - SIGNO - apenas com a palavra (escolham entre as palavras sugeridas). (Se a criança, não reconhecer o som, coloque várias fichas para que ela identifique, de que objeto é aquele nome). É o momento de explorar os signos através dos símbolos (esquema de assimilação, reconhecimento dos SIGNOS (palavras).

 
          Peça para baterem palmas, para descobrirem quantos pedacinhos (sons) tem as palavras. O som que começa. O som que termina. Identificar outras palavras começadas com o mesmo som.

 
           Trabalhar com as fichas de leitura 1, 2, 3, 4. Comece o estudo das fichas 2, em ligação com os objetos ou a ficha 01. Depois a ficha 3 em ligação com a 02 ou  a 01 e finalmente a ficha 4 em relação com a 2 e a 3, misturando nas brincadeiras e jogos para a identificação uma com as outras  e explorando bastante o valor sonoro das famílias que formam as palavras buscando outras com o mesmo som, explorando e estimulando tanto a percepção auditiva quanto a visual.

 
           Explore as palavras da terceira ficha, verbalmente, como se separam batendo palmas. Explorar, também oralmente, os nomes das crianças, etc.


           Com as palavras da 3ª ficha, peça que cada criança diga uma palavra que comece com um de seus pedacinhos. Por exemplo: na palavra BOLA as crianças devem dizer palavras que começam com BO, depois com LA. Faça isto com o máximo de palavras da 3ª ficha. Procure realizar através de jogos, dividindo a turma em grupos, pois isto estimula uma atividade característica da criança e também contribui para atenuar a competição.

 
            Crie vários jogos que auxiliem no trabalho com as fichas.


            PARALELO ao estudo das fichas certifique-se que todas ou a maioria das crianças conhecem as vogais.

 

OBS. EM NOSSA LÍNGUA SÃO AS VOGAIS QUE DETERMINAM O SOM DAS LETRAS. NA VERDADE, ELAS É QUE VARIAM E FORMAM AS PALAVRAS. NOSSA PROPOSTA É QUE NESSE INÍCIO AS CRIANÇAS COMECEM TRABALHANDO APENAS COM AS VOGAIS. QUANTO MENOS CONHECIMENTO TIVEREM DAS CONSOANTES, MAIS CONDIÇÕES TERÃO PARA ASSIMILAR O CONJUNTO DAS FAMÍLIAS, OU SEJA AO INVÉS DE B + A = BA, A CRIANÇA CONHECE “BA” COMO UMA TOTALIDADE IDENTIFICADA PELA VOGAL.

 

     Se a maioria das crianças não identificarem, trabalhe as vogais conforme orientação.

 

·         Invente e conte historinhas onde os personagens são as vogais. O interessante é que seja contada a história de cada vogal separadamente. A história do A, do U, do O etc., para depois reuni-las uma só história.

 

·         Procure em revistas a vogal A (depois O,I,E,U), recortar e cola


·         Leve-os a montarem as vogais com massinha de modelar.


·         Desenhe as vogais no chão para caminharem sobre as mesmas.


·         Dê para as crianças o desenho da vogal em folha ofício para que elas colem barbante, palitos, grãos etc.

 

           Faça uma brincadeira onde cada criança, terá um mini cartaz (folha de ofício) preso na roupa. Estabeleça uma dinâmica onde todos, ao som de uma música, ou um instrumento, andem livremente e a um determinado sinal, devem parar e dar a mão ao amigo do lado. Faça análise dos encontros formados e seus respectivos sons (EU – IA – AI – AU – OI – OU – EI – UAI –UI ) os sons formados que não tenham sentido como por exemplo AE – UA etc. são desfeitas para retomar a dinâmica e serem refeitas.

 

           Ao fim da brincadeira escreva os encontros em fichas que darão inicio ao seu banco de palavras

 
           OBS.: A FICHA ESQUEMA SÓ DEVE SER INTRODUZIDA QUANDO IDENTIFICAREM SEM DIFICULDADE AS VOGAIS E AS TÁBUAS DE UMA E DUPLA ENTRADA JÁ TER SIDO TRABALHADO BASTANTE.

 
*        Explore as palavras da quarta ficha, verbalmente, como se separam batendo palmas. Explorar, também oralmente, os nomes das crianças, etc.

 
*        Com as palavras da 4ª ficha, peça que cada criança diga uma palavra que comece com um de seus pedacinhos. Por exemplo: na palavra BOLA as crianças devem dizer palavras que começam com BO, depois com LA. Faça isto com o máximo de palavras da 4ª ficha. Procure realizar através de jogos, dividindo a turma em grupos, pois isto estimula uma atividade característica da criança e também contribui para atenuar a competição.


*        Em cartolina ou similar, faça cartelas de bingo com estas palavras e jogue com as crianças.


*        Crie vários jogos para fixação dos sons das famílias.


*        Faça cópias ou escreva as palavras com as crianças, de forma que possam ser recortadas por sílabas e possam ser coladas refazendo as palavras. (desfazer as palavras e reorganizá-las, recortando e colando). 

 

*        Peça para que as crianças desenhem as palavras, (podem estar no contexto do desenho) e organize uma exposição destes desenhos na sala de aula ou na escola. Discuta, forme frases, crie “histórias” e dramatize estas palavras (oralmente).
 

*        Peça que as crianças escolham entre as palavras trabalhadas nas terceiras fichas as que mais gostaram (voto da maioria), para serem PALAVRAS GERADORAS. Lembre-se que não existe o fácil e o difícil. Pode-se começar por qualquer uma das palavras, pois, o grau de dificuldade é o mesmo, uma vez que a criança vai trabalhar com a totalidade, com “famílias”, não fazendo diferença se a silaba é CAR ou CA.

 
Quando perceber que já estão bem seguros no reconhecimento das vogais e dos encontros vocálicos dê inicio ao trabalho com a ficha esquema, seguindo passo a passo as orientações dadas.

 
Sugestões de outras atividades a serem trabalhadas neste momento:

 
*      Utilização e criação de “histórias” tanto clássicas como criadas pela professora e /ou as crianças ligadas ao tema do projeto e, exploração das mais variadas situações problema.


*      Conhecimento e reprodução oral de quadrinhas e canções, ligadas ao tema do projeto.

 
*      Capacidade de “adivinhar” o que vai acontecer ou aconteceu. (Decodificação de índices)

 
*      Jogos em que se utiliza uma forma de expressão e comunicação não convencional (por ex: mímica) e que se possa observar a dificuldade de uma pessoa estranha em compreender o que se passa.

 
   *      Elaboração de perguntas e respostas de acordo com os diversos contextos de que participa.

 
*      Participação em situações que envolvem a necessidade de explicar e argumentar suas ideias e pontos de vista. Questionamentos durante as atividades.

 

*      Atividades gestuais, auditivas, gráficas e plásticas codificação de índices.

Ex: - “Há nuvens escuras; o que vai acontecer?”

- “ A rua está molhada: o que aconteceu?”


*      Coletados ou apresentados pelos alunos:

- cores dos sinais de trânsito.

- emblemas de clubes.

- cores de times de futebol.

 
*      Observações e manuseio de materiais impressos, como livros, revista em quadrinhos, etc. previamente apresentados ao grupo.

 
*      Atividades e conversas que leve a combinar um código de comunicação com os colegas;

 
*      Ao fim de cada atividade questionar bastante e comentar com a turma:
 

- a respeito do acordo prévio que determinou os acordos usados nas atividades.

- a respeito de suas funções (no desempenho de chefias).

 
*      Coletados ou apresentados pelos alunos:

- cores dos sinais de trânsito.

- emblemas de clubes.

- cores de times de futebol.

 
*      Jogos com palavras que comecem ou terminem pelo mesmo som.

 
*      Dramatização de situações resumidas em uma ou duas orações com carga emotiva variável.

 
*      Participação em situações em que as crianças “leiam”, ainda que não o façam de maneira convencional. (como o reconhecimento de embalagens, fichas etc.)

 
*      Observações e manuseio de materiais impressos, como livros, revista em quadrinhos, etc. previamente apresentados ao grupo.

 

 
OUTROS ASPECTOS IMPORTANTES PARA A AQUISIÇÃO DA LEITURA:

 

*      Os verbos e os substantivos devem ser à base de todos os planos e explorados em todas as atividades inclusive não esquecer a sua colocação de forma correta, variando do singular para o plural, presente passado e futuro.

 
*      Com base nos substantivos de cada semana a professora deve reunir e colocar à sua disposição no grupo o maior número possível de objetos e gravuras relacionados aos mesmos.
 
*      Solicitar gravuras de objetos para o caderno de coleção de objetos do mesmo tipo ou monte fichas por classe:     
          - servem para comer
          - servem para pentear o cabelo.
          - servem para a higiene pessoal.
          - eletrodomésticos.
          - flores.
          - animais etc.
 
                    Estas fichas devem ser recortadas em retângulos para o uso da criança, a maneira de um baralho (um pouco menor). 
 
      Sugestão de Leitura:
 
Núcleo Pedagógico
Rosângela Meira  / Valdicéia Rosa Terence


 

 
·  

domingo, 10 de março de 2013

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO






ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

Introdução


A educação é, com certeza, um dos fatores mais importantes para a construção de uma sociedade democrática, desenvolvida e sociamente justa. É condição básica e direito fundamental da cidadania. A educação como ato crítico radical, de conhecer para transformar, será a única garantia de valorização do ser humano. O domínio da língua, nas diferentes vertentes da palavra escrita e falada, da leitura e da oralidade, é crucial nos mais variados domínios da vida individual e coletiva. Não há cidadania nem competência profissional plenas sem um domínio robusto da língua portuguesa.
Ao longo dos anos a alfabetização tem sido alvo de inúmeras controvérsias teóricas e metodológicas, exigindo que a escola e, os educadores se posicionem em relação às mesmas. Essas mudanças nas práticas de ensino podem ocorrer tanto nas definições dos conteúdos a serem desenvolvidos quanto na natureza da organização do trabalho pedagógico.
Hoje o desafio maior é "Como alfabetizar letrando". Os processos de alfabetização e letramento são complexos, mas fundamentais para a inclusão social. O ensino de Letramento rompe barreiras tradicionais que considera a alfabetização como pré-requisito para o domínio da leitura e escrita
Não se deve haver uma dicotomia entre a alfabetização e o letramento. São processos que caminham juntos, e devem ser ensinados juntos no âmbito escolar, ou seja, é preciso o educador não penas alfabetize ou 'letre' o educando, e sim 'alfabetize letrando' o aluno, para que possa orientar o mesmo, o ato de ler e de escrever no contexto das práticas sociais.
Nos dias de hoje, ser alfabetizado, isto é, saber ler e escrever, tem se revelado condição insuficiente para responder adequadamente às demandas da sociedade. Há alguns anos, não muito distantes, bastava que a pessoa soubesse assinar o nome, porque dela, só interessava o voto. Hoje, saber ler e escrever de forma mecânica não garante a uma pessoa interação plena com os diferentes tipos de textos que circulam na sociedade. É preciso ser capaz de não apenas decodificar sons e letras, mas entender os significados e usos das palavras em diferentes contextos.
Infelizmente, a situação de nosso país nas últimas décadas, com relação aos índices de analfabetismo, é muito alarmante, pois muito se discute, mas, na prática, muito pouco é feito. O número de alunos aprovados ao final do primeiro ano escolar não é satisfatório, assim como o número dos que chegam à 4ª série do ensino fundamental sem estarem sequer alfabetizados/letrados também é preocupante.
Desde a invenção da escrita 3000 a.C, pelos Sumérios, habitantes da mesopotâmia, vários métodos foram utilizados com a finalidade de alfabetizar, que segundo o dicionário Aurélio significa: Ensinar a ler. Mas surgiu na década de 80, uma nova definição referente ao ensinar a ler que é o chamado Letramento.
Em um mesmo momento histórico, em sociedades distanciadas tanto geograficamente quanto socioeconomicamente e culturalmente sentiu-se a necessidade de reconhecer e nomear práticas sociais do ler e escrever resultantes da aprendizagem, no Brasil a discussão do letramento surge enraizada no conceito de alfabetização. Dissociar alfabetização e letramento é um único equívoco, pois alfabetização o desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, o letramento, sendo processos simultâneos.
Falar em alfabetização e letramento dentro da educação e fora dela é um assunto que não se esgotara facilmente, pois a sociedade vem impondo novos padrões de exigência, mesmo diante de novos paradigmas, métodos, teorias psicológicas precisamos nos adaptar ao novo.
Um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado. O indivíduo alfabetizado e letrado além de saber ler e escrever, responde adequadamente as demandas sociais da leitura e da escrita

1 – Alfabetização
 

É tomar o indivíduo capaz de ler e escrever. A alfabetização se ocupa da aquisição da escrita, por um indivíduo ou grupo de indivíduos. É o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja: o domínio da tecnologia, técnicas para exercer a arte e ciência da escrita.

A alfabetização é um processo no qual o indivíduo assimila o aprendizado do alfabeto e a sua utilização como código de comunicação. Esse processo não se deve resumir apenas na aquisição dessas habilidades mecânicas (codificação e decodificação) do ato de ler, mas na capacidade de interpretar, compreender, criticar e produzir conhecimento. A alfabetização envolve também o desenvolvimento de novas formas de compreensão e uso da linguagem de uma maneira geral.

Ela tem sido entendida tradicionalmente como um processo de ensinar e aprender a ler e escrever, portanto, alfabetizado é aquele que lê e escreve. O conceito de alfabetização para Paulo Freire tem um significado mais abrangente, na medida em que vai além do domínio do código escrito, pois, enquanto prática discursiva possibilita uma leitura crítica da realidade, constitui-se como um importante instrumento de resgate da cidadania e reforça o engajamento do cidadão nos movimentos sociais que lutam pela melhoria da qualidade de vida e pela transformação social. Ele defendia a idéia de que a leitura do mundo precede a leitura da palavra, fundamentando-se na antropologia: o ser humano, muito antes de inventar códigos lingüísticos, já lia o seu mundo.
A alfabetização de qualquer indivíduo é algo que nunca será alcançado por completo, ou seja, não há um ponto final. A realidade é que existe a extensão e a amplitude da alfabetização no educando, no que se diz respeito às práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita. Nesse âmbito, muito estudiosos discutem a necessidade de se transpor os rígidos conceitos estabelecidos sobre a alfabetização, e assim, considerá-la como a relação entre os educandos e o mundo, pois, este está em constante processo de transformação.

2 – Letramento

O termo letramento tem sido utilizado atualmente por alguns estudiosos para designar o processo de desenvolvimento das habilidades de leitura e de escrita nas práticas sociais e profissionais. Por que esse termo surgiu? Segundo alguns autores, a explicação está nas novas demandas da sociedade, cada vez mais centrada na escrita, que exigem adaptabilidade às transformações que ocorrem em ritmo acelerado, atualização constante, flexibilidade e mobilidade para ocupar novos postos de trabalho. Os defensores do termo "letramento" insistem que ele é mais amplo do que a alfabetização ou que eles são equivalentes.
Letramento é uma tradução para o português da palavra inglesa "literacy" que pode ser traduzida como a condição de ser letrado. A palavra letramento ainda não está dicionarizada, porque foi introduzida muito recentemente na língua portuguesa, tanto que quase podemos datar com precisão sua entrada na nossa língua, identificar quando e onde essa palavra foi usada pela primeira vez.
Parece que a palavra letramento apareceu pela primeira vez no livro de Mary Kato: No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística, de 1986.

Letramento é o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita. É usar a leitura e a escrita para seguir instruções (receitas, bula de remédio, manuais de jogo), apoiar à memória (lista), comunicar-se (recado, bilhete, telegrama), divertir e emocionar-se (conto, fábula, lenda), informar (notícia), orientar-se no mundo (o Atlas) e nas ruas (os sinais de trânsito).

É o resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais e da escrita, ou seja, um conjunto de práticas sociais, que usam a escrita, enquanto sistema simbólico, enquanto tecnologia, em contextos específicos da escrita denomina-se letramento que implica habilidades várias, tais como: capacidade de ler e escrever para atingir diferentes objetivos, permitir que o sujeito interprete, divirta-se, seduza sistematize, confronte, induza, documente, informe, oriente-se, reivindique, e garanta a sua memória, garantindo-lhe a sua condição diferenciada na relação com o mundo. Compreender o que se lê.

Na ambivalência dessa resolução conceitual, encontra-se o desafio dos educadores em face do ensino da língua escrita: o alfabetizar letrando. Desenvolvendo a necessidade de associar a teoria e prática.

O letramento tem início quando a criança começa a conviver com as diferentes manifestações da escrita na sociedade e se amplia cotidianamente por toda vida, com a participação nas práticas sociais que envolvem a língua escrita. Abarca as mais diversas práticas de escrita na sociedade e pode ir desde uma apropriação mínima da escrita, tal como o indivíduo que é analfabeto, mas letrado na medida em que identifica o valor do dinheiro e o ônibus que deve tomar, consegue fazer cálculos complexos, sabe distinguir marcas de mercadorias etc., porém não escreve cartas, não lê jornal, etc. Se a crianças não sabe ler, mas pede que leiam histórias para ela, ou finge estar lendo um livro, se não sabe escrever, mas faz rabiscos dizendo que aquilo é uma carta que escreveu para alguém, é letrada, embora analfabeta, porque conhece e tenta exercer, no limite de suas possibilidades, práticas de leitura e de escrita.

Para dizer que uma pessoa é letrada é quando faz uso das habilidades de ler e escrever inserindo um conjunto de práticas sociais, não apenas no conhecimento das letras e do modo de associá-las, mas usar esse conhecimento em benefício de formas de expressão e comunicação, reconhecidas e necessárias em um determinado contexto cultural, letramento depende da alfabetização, ou seja, da teoria e prática, pessoas letradas e não alfabetizadas mesmo incapazes de ler e escrever compreendem os papeis sociais da escrita distinguem gêneros ou reconhecem as diferenças entre a língua escrita e a oralidade.

3 – Leitura


A leitura é a base do processo de alfabetização e também da formação da cidadania. Ao ler uma história a criança desenvolve todo um potencial crítico: pensar, duvidar, questionar.
Etimologicamente, ler deriva do latim "lego/legere", que significa recolher, apanhar, escolher, captar com os olhos. Nesta reflexão, enfatizamos a leitura da palavra escrita.
Mas o que seria leitura? A leitura é uma experiência pessoal, a qual não depende somente da decodificação de símbolos gráficos, mas de todo o contexto ligado à história de vida de cada indivíduo, para que este possa relacionar seus conceitos prévios com o conteúdo do texto, e desta forma construir o sentido.

A prática da leitura se faz presente em nossas vidas desde o momento em que começamos a "compreender" o mundo à nossa volta. No constante desejo de decifrar e interpretar o sentido das coisas que nos cercam, de perceber o mundo sob diversas perspectivas, de relacionar a realidade ficcional com a que vivemos, no contato com um livro, enfim, em todos estes casos estamos de certa forma lendo, embora, muitas vezes, não nos demos conta.
As tecnologias do mundo moderno fizeram com que as pessoas deixassem a leitura de livros de lado, isso resultou em jovens cada vez mais desinteressados pelos livros, possuindo vocabulários cada vez mais pobres.
A leitura é algo crucial para a aprendizagem do ser humano, pois é através dela que podemos enriquecer nosso vocabulário, obter conhecimento, dinamizar o raciocínio e a interação. Muitas pessoas dizem não ter paciência em ler um livro, no entanto isso acontece por falta de hábito, pois se a leitura fosse um hábito rotineiro as pessoas saberiam apreciar uma boa obra literária, por exemplo.
A literatura de modo geral amplia e diversifica nossas visões e interpretações sobre o mundo e da vida como um todo. O hábito de ler deve ser estimulado na infância, para que o indivíduo aprenda desde pequeno que ler é algo importante e prazeroso, assim com certeza ele será um adulto culto, dinâmico e perspicaz.
"Num contexto onde a escrita e a leitura fazem parte das práticas cotidianas, a criança tem a oportunidade de observar adultos utilizando a leitura de jornais, bulas, instruções, guias para consulta e busca de informações específicas ou gerais; o uso da escrita para confecções de listas, preenchimento de cheques e documentos, pequenas comunicações e atos de leitura dirigidos a ela (ouvir histórias lidas). A participação nessas atividades ou a observação de como os adultos interagem com a escrita e a leitura gera oportunidades para que a criança reflita sobre o seu significado para os adultos". (AZENHA, 1999, p. 44).
Através da leitura todos se tornam iguais, com as mesmas oportunidades. A leitura, além de tornar o homem mais livre, possibilita que ele vá a muitos lugares que, sem a leitura jamais iria. "Através da leitura todos se tornam iguais, com as mesmas oportunidades. A leitura, além de tornar o homem mais livre, possibilita que ele vá a muitos lugares que sem a leitura jamais iria" (HOFFMANN, 2009).
A leitura para uns é uma atividade prazerosa para outros um desafio a conquistar, que somente será alcançado através de muito incentivo, das escolas das famílias e na sociedade. Um bom leitor não é aquele que lê muitas vezes o mesmo tipo de texto, mas aquele que lê diversos tipos de texto com profundidade.
Na formação de cada cidadão bem como de um povo, a leitura é de máxima importância, representando um papel essencial, pois se revela como uma das vias no processo de construção do conhecimento, como fonte de informação e formação cultural. Ademais, ler é benéfico à saúde mental, pois é uma atividade 'neuróbica', ou seja, a atividade da leitura faz reforçar as conexões entre os neurônios. Para a mente, ainda não inventaram melhor exercício do que ler atentamente e refletir sobre o texto.
A pessoa que lê conhece o mundo e conhecendo-o terá condições de atuar sobre ele modificando-o e tornando-o melhor, por que a leitura é o principal aspecto constituinte do pensamento crítico. O homem que não tem oportunidade de aprender a ler, certamente será 'excluído' da sociedade, ou melhor, não terá a mesma participação que aqueles que têm essa oportunidade.
O hábito da leitura é de extrema importância na formação intelectual do indivíduo, pois através dela, cria-se o espírito crítico-social. Ensinar a ler e escrever é alfabetizar, levar o aluno ao domínio do código escrito, isso feito principalmente na sala de aula, pois a mesma é o lugar da criação de um vínculo com a leitura.

4 – Escrita

Escrever é um conjunto de habilidades e comportamentos que se estendem desde simplesmente escrever o próprio nome até escrever uma tese de doutorado. Uma pessoa pode ser capaz de escrever um bilhete, uma carta, mas não ser capaz de escrever uma argumentação defendendo um ponto de vista, escrever um ensaio sobre determinado assunto. Assim escrever é também um conjunto de habilidades, comportamentos, conhecimentos que compõem um longo e complexo continuo
A escrita tem muitos usos práticos: as pessoas, no seu dia-a-dia, elaboram listas para fazer trocas comerciais, correspondem-se por cartas etc.. A escrita, em geral, serve também para registrar a história, a literatura, as crenças religiosas, o conhecimento de um povo. Ela é, além disso, um espaço importante de discussão e de debate de assuntos polêmicos. No Brasil de hoje, por exemplo, são muitos os textos escritos que discutem temas como a ecologia, o direito à terra, o papel social da mulher, os direitos das minorias, a qualidade do ensino oferecido aos cidadãos, e assim por diante.
Não basta à escola ter como objetivos alfabetizar os alunos: ela tem o dever de criar condições para que eles aprendam a escrever textos adequados às suas intenções e aos contextos em que serão lidos e utilizados.
Muitas crianças chegam à escola com idéias bastante claras a esse respeito, sabem que são lidas coisas escritas e não desenhos. Que um livro tem um título, que lendo pode-se saber o que está dito em um texto.
Hoje em dia a alfabetização ganha um sentido próprio e específico, ou seja, a alfabetização passa a ser entendida como um processo de aquisição da língua escrita e não apenas como aquisição de um código. E não há como se considerar um processo inicial desvinculado de um processo de desenvolvimento da escrita.
O reconhecimento da escrita como objeto social, como produção humana, que traz a marca do desenvolvimento histórico da humanidade e que simboliza uma das formas do homem transformar a realidade para se comunicar com outros homens, remete justamente para o entendimento de que o homem, ao se apropriar desse objeto do conhecimento o transforma, porque a ele imprime seu significado único e pessoal e, ao mesmo tempo, se transforma, pois, ao apropriar-se, desenvolve-se.
Nosso sistema de escrita funciona segundo um princípio alfabético: a quantidade de letras de uma palavra corresponde, a grosso modo, ao número de sons que compõem a palavra. Entender o princípio alfabético não é o mesmo que conhecer os sons das letras. Uma criança pode saber que ao símbolo escrito E corresponde ao som [e], que ao símbolo L corresponde o som [l], mas, mesmo assim, ela pode não ter compreendido o mecanismo que permite formar uma palavra escrita.
Algumas crianças chegam à escola com a compreensão do princípio alfabético. Outras pensam que o número de letras de uma palavra é igual ao número de sílabas de uma palavra, enquanto outras, sequer entenderam que as letras escritas tem relação com os sons das palavras. Devemos lembrar sempre que as crianças não chegam à escola com o mesmo nível de compreensão que do seja ler e escrever.
Para ensinar a escrever é preciso, para começar, que o professor queira saber o que o aluno tem a dizer sobre o assunto a respeito do qual pediu que ele escrevesse e que acredite que esse aluno tem realmente alguma coisa a dizer. Para acreditar que o aluno tem algo a dizer é preciso que o professor se perceba como alguém que também tenha algo a dizer, isto é, o texto escrito pelo professor é pré-requisito para que o aluno escreva o seu texto. O professor só pode provar a seus alunos que escrever faz sentido se conseguir mostrar-lhes que, tal como ler, escrever é produzir sentido, que o autor do texto é o primeiro leitor a ser atingido pelos efeitos de sentido provocados por seu esforço de mobilização dos recursos expressivos historicamente construídos na língua, para pôr uma certa ordem na vida e no mundo.
Em seguida, é importante que o professor constitua, na sala de aula, o público para os textos de seus alunos e os ponha sistematicamente em discussão. É preciso reverter a tradicional crença de que somos todos incapazes de escrever, substituindo-a pela convicção natural de que somos todos capazes de escrever para descobrirmos o que somos capazes de dizer a respeito do assunto de que estamos tratando. Essa capacidade brota do trabalho de escrever (e não de uma inspiração iluminada) e do diálogo do texto resultante desse trabalho com os seus leitores, e esse diálogo só faz sentido se for para subsidiar uma ou mais reescritas do texto, com a finalidade de construir, a respeito do assunto, a clareza possível nesse momento histórico, pelo qual passa o autor do texto.

Finalmente, é necessário que o professor seja professor e examine esses textos para orientar, minuciosamente, as reescritas que vão qualificá-los. Orientar a reescrita não é apenas adequar o conteúdo às verdades estabelecidas pela ciência, nem a forma do texto ao modo consagrado de escrever nessa área de conhecimento, mas é principalmente, levar o autor do texto a repensar a pertinência dos dados com que está lidando, a coerência da tese que apresenta, a adequação entre dados e tese, em fim, levá-lo a perceber lacunas nas informações de que dispõe e a se perguntar para que vai servir o que está escrevendo.
Ensinar a escrever é uma tarefa de uma escola disposta a olhar para frente e não para a repetição do passado que nos trouxe à escola que temos hoje. Trabalhar com o texto implica trabalhar com a incerteza e com o erro e não com a resposta certa, porque escrever é produzir e não reproduzir velhas certezas, pois as certezas nos deixam no mesmo lugar. É o erro que nos leva na direção do novo.

5 – Alfabetizar Letrando


O desafio da alfabetização, hoje, é alfabetizar letrando. Além desse conhecimento, o alfabetizador precisa entender que alfabetização é um processo complexo que inicia antes da alfabetização escolar, assumindo-se a escrita pela dimensão simbólica e enfatizando os seus usos sociais. Por meio da mediação do adulto a criança vai identificando a natureza da linguagem escrita, porém a qualidade das interações é que vão determinar as concepções que a criança apresenta sobre a linguagem escrita. É função de a escola dar continuidade a esse trabalho, de forma sistematizada pelo contato com as diversas práticas sociais que participa.

A alfabetização e o letramento são fundamentos da educação e devem ser encarados como essenciais para que as crianças atinjam um nível satisfatório de compreensão do mundo. É isso que a alfabetização e o letramento fazem, além de demonstrar os signos e símbolos, faz com que compreendamos o mundo em que vivemos.

Na concepção atual, a alfabetização não precede o letramento, os dois processos podem ser vistos como simultâneos, entendendo que no conceito de alfabetização estaria compreendido o de letramento e vice-versa.
Isto será possível se a alfabetização for entendida além da aprendizagem grafofônica e que em letramento inclui-se a aprendizagem do sistema de escrita. A conveniência da existência dos dois termos, que embora designem processos interdependentes, indissociáveis e simultâneos, são processos de natureza diferente, uma vez que envolve habilidades e competências específicas, implicando, com isso, formas diferenciadas de aprendizagem e em conseqüência, métodos e procedimentos diferenciados de ensino.
Assim, a participação das crianças em experiências variadas com leitura e escrita, conhecimento e interação com diferentes tipos e gêneros de material, a habilidade de codificação e decodificação da língua escrita, o conhecimento e reconhecimento dos processos de tradução da fala sonora para a forma gráfica da escrita implica numa importante revisão dos procedimentos e métodos para o ensino, uma vez que cada fase desse processo exige procedimentos e métodos diferenciados, pois cada criança e cada grupo de crianças necessitam de formas diferenciadas na ação pedagógica.

A proposta de alfabetizar letrando rompe defini­tivamente com a divisão entre o 'momento de apren­der' e o 'momento de fazer uso da aprendizagem'. Estudos lingüísticos propõem a articulação dinâmica e reversível entre 'descobrir a escrita' (conhecimento de suas funções e formas de manifestação), 'aprender a escrita' (compreensão de regras e modos de funcio­namento) e 'usar a escrita' (cultivo de suas práticas a partir de um referencial culturalmente significativo para o sujeito).

No alfabetizar letrando, se resgata o papel do professor como mediador, recuperando sua figura de elo entre o educando e a matéria de conhecimento, interferindo no processo sem desviá-lo nem desvirtuá-lo. A interação aluno-conteúdo é um diálogo aluno-mundo mediado pelo professor e por outras pessoas. Nesse contexto, faz-se necessária uma retoma­da do papel do professor alfabetizador cujo desafio é letrar os alunos por meio do trabalho com atividades de leitura e escrita, executadas no plano da prática so­cial, portanto em situação de dialogicidade.

Essa nova forma de alfabetizar letrando requer do professor que ele perceba as necessidades de sis­tematizar o uso, refletindo com a criança sobre este, para garantir que ela saiba usar os objetos de escrita presentes na cultura escolar. Na verdade, o medo existe por não se saber como proceder. Buscam-se receitas, mas a má notícia. É que elas não existem; e a boa notícia é que há indi­cações de caminhos, e que cada um poderá descobrir o seu.
Antes de o professor querer exercer esse papel de "professor-letrador" é necessário que ele se conscientize e busque ser letrado, domine a produção escrita, as ferramentas de busca de informação e seja um bom leitor e um bom produtor de textos. Mas para que se torne capaz de letrar seus alunos, é preciso que conheça o processo de letramento e que reconheça suas características e peculiaridades.
Alfabetizar letrando significa orientar a criança para que aprenda a ler e a escrever levando-a a conviver com práticas reais de leitura e de escrita; substituindo as tradicionais e artificiais cartilhas por livros, por revistas, por jornais, enfim, pelo material de leitura que circula na escola e na sociedade, e criando situações que tornem necessárias e significativas praticas de produção de textos.
Como já foi dito acima, os alunos já vem para a escola com seus conhecimentos, que não é só o professor q tem algo a ensinar. Hoje em dia o professor além de ter algo a ensinar também aprende muito com os alunos e devemos deixar que eles participassem cada vez mais investigando e chegado as suas próprias conclusões, o professor é mais um auxiliador do conhecimento dos alunos.
Alfabetizar letrando é quando o professor compreende o universo de seu aluno e aplique todo o seu conhecimento e sabedoria com base nessa realidade.
O professor não deve dissociar alfabetização de letramento, pois deve trabalhar com seus alunos de forma simultânea. Para melhorar minha prática pedagógica,é preciso fazer os alunos compreenderem e utilizarem a leitura e escrita nas mais diversas situações do dia-a-dia,a fim de repensar o ensino da língua.


Conclusão
 
Visto que a sociedade hoje é uma sociedade grafocêntrica, não basta ao indivíduo ser simplesmente alfabetizado, ou seja, aprender meramente a decodificar. Faz-se necessário que o mesmo seja também letrado para que possa exercer as práticas sociais de leitura e escrita nesta sociedade. Percebemos que tudo que já foi feito ainda é pouco e que muita teoria e discussão não foram suficientes para mudar as estatísticas.

Do que precisamos, verdadeiramente, é conscientizar o professor alfabetizador, pois somente quando ele tiver consciência da importância de seu papel, na formação do educando em seu exercício das práticas sociais de leitura e escrita na sociedade em que vive, é que vai romper com paradigmas tradicionais e perceber que não basta alfabetizar. Hoje os nossos alunos necessitam de um processo de aprendizagem que focalize o alfabetizar letrando. Enquanto não houver uma ação significativa, um investimento na formação do professor alfabetizador, as estatísticas continuarão gritando e retratando o que encontramos em nossas escolas: alunos que chegam à 4ª série sem estarem alfabetizados e letrados, e professores descomprometidos por falta de formação, de conhecimento e de valorização.

Se quisermos propiciar a construção de conhecimentos das crianças precisamos analisar, pensar, escolher novas situações problemas não só para desafiá-las, mas para inferir cada vez mais sobre seu processo de construção de conhecimento.
Os desafios que se coloca para os primeiros anos da educação fundamental é o de conciliar esses dois processos (alfabetização e letramento), assegurando aos alunos a apropriação do sistema alfabético-ortográfico e condições possibilitadoras do uso da língua nas práticas sociais de leitura e escrita. Não se trata de escolher entre alfabetizar ou letrar; trata-se de alfabetizar letrando.

Referências

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SOARES, Magda Becker. Letrar é mais que alfabetizar. Disponível em: http://intervox.nce.ufrj.br/%7Eedpaes/magda.htm. Acesso em: 19 de Outubro de 2009.

Autor: JAIME ROBERTO THOMAZ

           
Núcleo Pedagógico
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